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Escritos de Euclides: atravessemo-los!

Brasis descobertos pelo autor de Os Sertões continuam mais distantes do que nunca

Por Bárbara Dal Fabbro

Pensar a vida e obra de Euclides da Cunha é, em muitos aspectos, pensar o Brasil de Euclides da Cunha; um país que o fascinava, instigava e provocava a curiosidade e o ímpeto à busca pelo conhecimento, à descoberta.

Engana-se aquele que atrela suas obras escritas a um tempo histórico específico. O Brasil por ele descrito continua sendo atual, em qualquer época que seja visto. Esse feito, da pertinência ao longo dos anos, só é possível pois o Euclides andante, viajante, em seus livros e relatos de viagens e vivências, nos mostra que o cerne de nosso país permaneceu o mesmo.

Questões por ele abordadas com descrições precisas e palpáveis, como a fome, a ausência de escolas e letramento, a violência com que as autoridades da lei se voltam contra os mais fracos e marginalizados, a degradação do meio ambiente, a solidão e o abandono do Brasil profundo, continuam pertinentes no ano de 2021; em um Brasil que, infelizmente, retrocede a passos largos diante dos nossos olhos.

Suas habilidades em percorrer e atravessar situações consideradas “caudalosas”, densas, profundas, nos mostram a força da narrativa de um homem que observa em seu tempo as mazelas intrincadas na constituição de nossa nação.

Euclides da Cunha retratado no ano de 1900 Foto: Autor desconhecido/Domínio Público/Wikimedia Commons

O Euclides engenheiro e o Euclides escritor têm em si a particularidade de serem construtores de pontes. Suas habilidades em percorrer e atravessar situações consideradas “caudalosas”, densas, profundas, como a Guerra de Canudos, a expedição desbravadora ao Rio Purus e como tantas outras, já que o escritor constantemente se envolveu e se voltou a temas relacionados à preservação do meio ambiente e às questões políticas, nos mostram a força da narrativa de um homem que observa em seu tempo as mazelas intrincadas na constituição de nossa nação.

Atravessar os escritos de Euclides da Cunha, assim como atravessar um rio de fortes correntezas, transforma o leitor. O transmuta em um nível de consciência profundo, “lavando”, nesse processo, certezas, inquietações e preconceitos. Sai-se deles completamente mudado. Não há como não interiorizar conceitos, sentimentos e cenários descritos por ele.

Portanto, de todos os Euclides da Cunha possíveis, do engenheiro ao escritor, passando pelo cartógrafo e jornalista, todos habilidosos em diversas áreas de conhecimento, o Euclides da Cunha que perpassa-os é o andante, o viajante, o descobridor de Brasis e o guia, que nos conduz habilmente a atravessar pontes transformadoras.

VEJA O DOCUMENTÁRIO EUCLIDES

Esta produção da Casa de Cultura Euclides da Cunha, de São José do Rio Pardo (SP), aborda o legado do autor de Os Sertões para a cidade e o Brasil:

Sinopse: Um paralelo entre a vida do engenheiro, jornalista e escritor Euclides da Cunha e as origens de São José do Rio Pardo, uma cidade no interior do Estado de São Paulo, onde, no final do século XIX, Euclides tem a missão de reconstruir a ponte metálica sobre o Rio Pardo. O encontro entre Euclides e São José culminou no nascimento do livro Os Sertões, uma das principais obras da literatura e da historiografia brasileira, que projetou o escritor e, consequentemente, a cidade, para o mundo. Desde 1912, este legado tem sido eternizado, ano após ano, por meio do Movimento Euclidiano e da Semana Euclidiana, um dos maiores movimentos em memória de um escritor no Brasil.

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