• Diálogos,  Entrevista

    Judith Butler: “Temos que esperar reações e retrocessos”

    Três décadas depois do lançamento do livro Problemas de Gênero, a destacada filósofa estadunidense Judith Butler abraça a não violência para combater a desigualdade social e lembra que a história não avança continuamente, exigindo constante mobilização para enfrentar as ações retrógradas Por Paula Escobar A influente pensadora feminista está enojada “por causa da terrível e violenta invasão da Ucrânia” e argumenta que “as justificativas incoerentes e divagantes de Vladimir Putin para a guerra que ele está travando contra o povo da Ucrânia foram um exercício de patriarcalismo estridente e histérico”. Ela clama categoricamente pela não violência na luta contra a injustiça e afirma que “misóginos e homofóbicos ganham um senso de seu valor acreditando em sua superioridade”. Ela também se…

  • Diálogos,  História

    Tintas talentosamente fortes

    Ressurge a pintora italiana Artemisia Gentileschi, um dos maiores nomes do barroco e primeira mulher aceita na Academia das Artes do Desenho de Florença, mas que só começou a ter seu valor artístico reconhecido na década de 1970, mais de 300 anos depois da sua morte Por Mauro César Silveira Mais de três séculos de ostracismo. Um protagonismo de visibilidade muito tardia, tragicamente tardia, quase eterna, cruel morosidade decretada pelo patriarcado ainda vigente. Considerada hoje um dos maiores talentos do barroco no mundo inteiro, a pintora italiana Artemisia Gentileschi começou a sair do limbo na década de 1970 e não apenas pelas suas inegáveis virtudes artísticas. Mas também pela sua…

  • História,  Jornalismo,  Resenha

    A repórter que abraçou o mundo

    Precursora do jornalismo investigativo, a estadunidense Nellie Bly suplantou a marca do personagem ficcional Phileas Fogg, da obra de Júlio Verne, ao dar a volta no globo terrestre, em pleno século XIX, no período de 72 dias Por Mauro César Silveira A insólita pauta foi cumprida, com absoluto êxito, num 25 de janeiro de 1890, exatos 132 anos atrás. Nem a autora da façanha estava segura de que a empreitada seria um estrondoso sucesso, superando as previsões mais otimistas. A jornalista Nellie Bly desembarcava na estação de trem de Jersey City diante de milhares de entusiasmadas pessoas que aguardavam a sua chegada, antes de partir para seu destino final em…

  • História,  Jornalismo

    A editora invisível

    Considerada a primeira mulher jornalista da Bacia do Prata, Petrona Rosende lançou no anonimato, em 1830, a publicação feminista portenha La Aljaba Por Mauro César Silveira É uma ilustre desconhecida, sem nenhuma ponta de ironia. Uma arrojada e pioneira editora do Cone Sul. Bem antes, muito antes, mais de meio século antes do protagonismo conquistado pela notável repórter Nellie Bly, precursora do jornalismo investigativo no Estados Unidos no final do século XIX, Petrona Rosende criou, em Buenos Aires, no ano de 1830, um jornal feminista chamado La Aljaba. Um nome bem escolhido: o vocábulo espanhol de origem árabe significa o saco para carregar arco e flechas. O lema da publicação,…

  • História,  Jornalismo,  Resenha

    Uma repórter no meio do inferno

    Livro Dez dias num hospício, resultado da experiência de falsa identidade da jornalista estadunidense Nellie Bly, ganha quatro edições no Brasil em menos de um ano Por Mauro César Silveira À primeira vista, não poderia haver proposta mais indecorosa: ela teria que se fazer passar por uma pessoa com graves problemas mentais, provocar sua própria internação em um hospital psiquiátrico, sem previsão de alta, e tentar obter as informações mais detalhadas possíveis das condições do local. Mas a jovem repórter Nellie Bly, pseudônimo de Elizabeth Jane Cochran, não se intimidou. “Disse que podia e o faria. E fiz”. A resposta imediata, resoluta, ao editor Colonel Cockerill – uma ideia dele…

  • História,  Jornalismo

    As lições de uma história quase presente

    Nova edição do manual de redação do jornal espanhol El País reflete o impacto do avanço da causa feminista nos últimos sete anos Por Mauro César Silveira A história recente também ensina – e muito. Na primavera europeia, exatamente no dia 29 de abril, o manual de redação do maior jornal da Espanha, o El País, chegará às livrarias acolhendo algumas lições da luta feminista, mais acentuada desde meados da década passada. A 23ª edição do Libro de Estilo, anunciada há menos de duas semanas, incorpora algumas lições adquiridas a partir de 2014, quando haviam sido atualizadas, pela última vez, as diretrizes do trabalho jornalístico, mas também os princípios editoriais…

  • Diálogos,  História,  Jornalismo,  Resenha

    O machismo com ares de modernidade da revista Fon-Fon

    Obra da historiadora Vívian Marcello Ferreira Caetano descortina a proposta editorial da publicação ícone da belle époque brasileira Por Mauro César Silveira Os ventos da modernidade na chamada Primeira República (1889-1930) sopraram em direções determinadas, sob condições igualmente estabelecidas: o Brasil tentava ostentar a imagem de nação civilizada, varrendo para debaixo do tapete o passado colonial e escravista, sem abrir mão de manter a abismal desigualdade social do país. Assim, o projeto de profundas reformas urbanas na então capital federal, iniciado em 1903 pelo prefeito Pereira Passos, com forte apoio do presidente Rodrigues Alves, precisou contar com o jornalismo como estratégico aliado para disseminar essa mudança cosmética. O bordão oficial…

  • Entrevista,  História,  Jornalismo,  Resenha

    Amores, cocaínas, tangos e moléstias

    Enervadas, de Madame Chrysanthème, é uma crítica à vida tediosa da mulher burguesa dos anos 1920 Por Natália Huf No perfil sobre Madame Chrysanthème, também publicado aqui no Jornalismo & História, Mauro César Silveira diz que “se pudesse, ela não assinaria seus textos como Chrysanthème”. De fato, a narrativa feminista e moderna de Enervadas, de 1922, não deveria precisar ter sido assinada por um pseudônimo. Infelizmente, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos, a mulher por trás do nome, assim como a protagonista Lúcia, viveu em uma época em que o sexo feminino estava destinado a ocupar apenas as funções de esposa, dona de casa e mãe. Escritora e jornalista, Chrysanthème…