História

Um livro didático não deve ser crítico?

Os interesses políticos querem determinar os conteúdos educacionais

Por Bárbara Dal Fabbro

Ao relatarmos a perseguição a um escritor ou obra literária logo associamos a prática ao período em que a Igreja Católica, tendo o Tribunal da Santa Inquisição como braço armado, confiscou e queimou livros. Matando não só os pensamentos e ideais de seus autores, como eles próprios.

Porém, os casos a que nos referimos são mais recentes e latentes. Não tomaram proporções extremadas, mas causaram polêmicas discussões em torno dos livros didáticos.

Em 2007, a coleção Nova História Crítica, do historiador Mario Schmidt, foi uma constante nos jornais e revistas brasileiros. Reportagens o acusavam de disseminar a ideologia comunista pelas escolas brasileiras. A coleção foi umas das 53 excluídas em avaliação do Ministério da Educação (MEC) naquela época.

Esse episódio passaria despercebido se o livro não fosse um dos preferidos na indicação dos professores brasileiros para integrar o Plano Nacional do Livro Didático (PNDL). Devido a isso, levanta-se a questão: o que o MEC espera dos livros que distribuirá a todas as escolas primárias de ensino público do país? Existe um direcionamento “certo” a seguir?

O estopim da polêmica reside em uma leitura e interpretação equivocada e tendenciosa do livro, acusado de ideológico, de socialista. Frases descontextualizadas foram utilizadas como prova da inclinação socialista do livro. Um erro primário e intencional.

A coleção de livros de Schmidt tem na visão crítica da História sua pedra de toque. Todavia, não se enganem ao pensar que se trata de uma narrativa histórica perfeita, um exemplar único. Pelo contrário, apresenta seus erros e deslizes como qualquer outro, mas nada que justifique tal atitude censora e persecutória ao volume e a seu autor.

Seguindo essa linha, nos últimos cinco anos, disseminou-se a polêmica em torno do movimento “Escola sem Partido” que, em sua página oficial, se denomina como um grupo que representa pais e professores e diz se preocupar “com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras”, e assegura que “um exército organizado de militantes travestidos de professores prevalece-se da liberdade de cátedra e da cortina de segredo das salas de aula para impingir-lhes a sua própria visão de mundo”.

Obras críticas costumam incomodar Imagem de fundo: Felix Mittermeier/Pixabay

A partir de 2016, foi possível acompanhar a tramitação de projetos de lei em câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso Nacional que estabeleciam os direitos e deveres dos professores dentro da sala de aula, os direitos dos pais na decisão sobre o conteúdo da educação dos filhos e regras para a definição de livros didáticos a serem adotados pelas escolas.

O Ministério da Educação, na época, pronunciou-se através do ministro Mendonça Filho, que defendeu uma educação “de qualidade, plural e que ofereça ao aluno a oportunidade de ter ampla visão de mundo e acesso às diversas matizes do conhecimento, desenvolvendo senso crítico”, e concluiu que “conceitualmente, tenho a posição de que não será por meio de uma legislação assim que se resolve a questão”.

Já no início do atual governo, o chefe do executivo nacional fez críticas severas aos livros didáticos distribuídos pelo MEC, chamando-os de “lixos” e que “suavizaria o conteúdo” para 2021. Em declaração dada a jornalistas na portaria do Palácio da Alvorada, em 3 de janeiro de 2020, ele anunciou seus planos para a educação brasileira: “A partir de 2021, todos os livros serão nossos, feitos por nós. Os pais vão vibrar. Vai estar lá a bandeira do Brasil na capa. Vai ter lá o hino nacional. Os livros hoje em dia, como regra, são um montão de amontoado de muita coisa escrita. Tem que suavizar aquilo”.

Frente a esses casos recentes de interferências políticas nos conteúdos dos livros didáticos distribuídos pelo MEC e corroborados por um comitê de educadores especializados, fica a pergunta: devemos manter livros didáticos desatualizados como ‘guias’ dos alunos brasileiros apenas devido a um ponto de vista determinado pelos que estão no poder e temem que chegue ao povo uma versão validada por profissionais da área da educação, realista e crítica?

OS ALFABETOS EVOLUEM COM OS SÉCULOS E OS SUPORTES TAMBÉM

Mais de sete mil anos de guerras e desastres separam as tabletas de argila sumérias dos e-books atuais

Tabletas de argila

O mais antigo tipo conhecido de escrita foi criado pelos sumérios por volta de 3.500 A.C.. Os primeiros pictogramas eram gravados em tabuletas de argila, em sequências verticais de escrita, com estilete feito de cana (cunha).

 

Papiro

Por volta de 2.200 anos A.C., os egípcios desenvolveram a técnica do papiro, um dos mais velhos antepassados do papel. Para confeccionar o papiro, corta-se o miolo esbranquiçado e poroso do talo da planta papiro em finas lâminas. O papiro pronto era enrolado em uma vareta de madeira ou marfim para criar o rolo que seria usado na escrita.

 

 

Pergaminho

Pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para nela se escrever. Deriva do nome da cidade onde foi fabricado pela primeira vez: Pérgamo, na Grécia. Foi largamente utilizado na antiguidade ocidental, em especial na Idade Média, até à difusão da invenção chinesa do papel. Na atualidade, o pergaminho é utilizado para a confecção de diplomas universitários, por ser considerado um material difícil de ser falsificado, graças às nuances naturais e à sua grande durabilidade.

 

Códice

Ou codex, da palavra em latim que significa livro, bloco de madeira. É um livro manuscrito, em geral do período da era antiga até a Idade Média. O códice é um avanço do rolo de pergaminho, e gradativamente substituiu este último como meio de escrita. O códice, por sua vez, foi substituído pelo livro impresso.

 

Papel

Afeltrado de fibras unidas tanto fisicamente (entrelaçadas) como quimicamente por pontes de hidrogênio. Acredita-se que tenha sido inventado na China por Ts’ai Lun há mais de 2.000 anos. O material mais comumente usado é a polpa de madeira de árvores, como pinheiros e eucaliptos. Atualmente, os papéis feitos de fibras de algodão são usados em trabalhos de restauração, de arte e artes gráficas, tal como o desenho e a gravura, que exigem um suporte de alta qualidade.

 

E-book

Abreviação inglesa de Eletronic Book, é um livro em formato digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos como tablets, computadores pessoais ou até mesmo celulares. É um método de armazenamento de pouco custo e de fácil acesso devido à capacidade de propagação da internet. São facilmente transportados em pen-drives. O e-book foi inventado em 1971, quando Michael Hart digitou a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. Hart foi também o fundador do Projeto Gutenberg, o mais antigo produtor de livros eletrônicos do Mundo.

 

Imagens: Wikimedia Commons

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