Entrevista,  História

A arte ao alcance de um clique

Inovador projeto de extensão da UFSC torna acessíveis, em duas plataformas digitais, exposições do mundo inteiro

Por Mauro César Silveira

Nem tudo tem sido angústia, sofrimento e dor. Os momentos mais duros do confinamento também produziram preciosidades. Uma delas nasceu junto com a disciplina História da Arte no Brasil e na América Latina, concebida pela professora Daniela Queiroz Campos, do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ao pesquisar materiais didáticos para animar as aulas virtuais, ela concebeu a ideia  que culminaria, em maio deste ano, no projeto de extensão A IMAGEM no(s) Tempo(s), vinculado à Secretaria de Cultura e Arte  (SeCArte), órgão da instituição onde trabalha. A proposta visa tornar mais acessível a história da arte, além de divulgar exposições e obras produzidas por artistas contemporâneos. Imagens são selecionadas e disponibilizadas livremente, com suas respectivas análises, em duas plataformas digitais: na rede social Instagram e no Portal História Pública, outro espaço de divulgação de conhecimento histórico da UFSC.

Página no Instagram abre as portas de eventos em todos os quadrantes: um dos objetivos de A IMAGEM no(s) Tempo(s) é aproximar as pessoas do mundo artístico

As viagens virtuais que Daniela Queiroz Campos realizou no período mais agudo do isolamento imposto pela Covid-19 foram germinando a proposta. Tudo partiu de uma necessidade profissional, como ela relembra: “Eu, uma professora de história da arte, passei a utilizar mais assiduamente os sites e os Instagrams de museus não apenas para montar as minhas aulas, como também para selecionar e disponibilizar conteúdos que pudessem interessar aos meus alunos. Muito satisfeita com o que encontrei, planejei uma disciplina de História da Arte no Brasil e na América Latina a partir de exposições de arte que aconteceram em diferentes momentos históricos, como a Histórias Afro-Atlânticas do MASP, em 2018, ou a Exposição da coleção de Arte Latino-Americana do MoMA, em 1943. Além da professora que trocou uma sala de aula convencional pelo ambiente virtual, fui uma historiadora da arte que se viu impossibilitada de visitar as exposições do modo convencional. Passei, então, a visitar muitas exposições virtualmente através dos sites de museus, como o do Prado e do Louvre”.

“A arte e as imagens nos tocam, nos provocam, nos emocionam, nos fazem pensar. Essas são suas verdadeiras potências. Essas potências não são e não devem estar restritas aos chamados especialistas”. Daniela Queiroz Campos, a coordenadora do projeto

Também pesou na maturação do projeto a formação acadêmica da professora. Das influências que recebeu, um nome foi fundamental nesse processo, como ela destaca: “O historiador da arte francês Daniel Arasse (1944-2003) defendia o que ele chamou de uma vulgarização da história da arte. Ele participava de emissões na rádio e escrevia textos direcionados ao grande público, além de ser um respeitadíssimo professor da icônica EHESS (École des Hautes Études en Sciences Sociales) de Paris”. Essa inspiração não reduzia o tamanho do desafio de levar a arte a um número maior de pessoas: “Sempre considerei belíssimo o trabalho dele (Daniel Arasse), mas sinceramente conheço as dificuldades e os riscos de conjugar lugares de fala tão díspares. Mas nosso projeto tem esse como principal objetivo. Uma escrita que parte da universidade, mas que almeja um público mais amplo. Um público formado de pessoas que gostem e que se interessem por arte e por suas exposições”.

Professora Daniela Queiroz Campos, a autora do projeto: paixão pela arte impulsiona seu trabalho Foto: Acervo pessoal

Para perseguir o objetivo de apresentar semanalmente uma exposição de arte diferente aos seguidores de A IMAGEM no(s) Tempo(s), Daniela Queiroz Campos conta com duas alunas bolsistas do curso de História da UFSC, Amanda Borba Paitax e Isadora Gentil. É um trabalho recente, de poucos meses, mas que já está “rendendo bons frutos”, como assinala a professora. Um deles é o aprendizado, dela e das estudantes de graduação: “Sinceramente, para mim, o principal resultado tem sido aprender. Nós três – as duas bolsistas e eu – aprendemos muito a cada semana. Aprendemos sobre uma exposição, um artista. Estamos aprendendo muito com o público que gosta mais ou menos de um tipo de interação ou de uma determinada informação. Ainda não temos um número alargado de seguidores (são 1.040 no Instagram), mas estamos indo aos poucos. Aprendendo e buscando ensinar nesse processo prazeroso e, espero, que longo”.

Doutora em História pela UFSC, com Pós-Doutorado na renomada École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, essa aplicada pesquisadora também tem muito a ensinar. Mas é sua paixão pela arte que impulsiona as melhores lições que ela pode oferecer. Suas palavras dizem tudo: “Eu fiz da arte e de sua história a minha profissão, foi uma escolha que eu fiz num momento preciso da minha vida. No entanto, se hoje eu não fosse uma historiadora da arte eu também frequentaria exposições e leria sobre arte. Acredito que é assim com uma parte significativa das pessoas. A arte e as imagens nos tocam, nos provocam, nos emocionam, nos fazem pensar. Essas são suas verdadeiras potências. Essas potências não são e não devem estar restritas aos chamados especialistas”.

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