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Um livro didático não deve ser crítico?
Os interesses políticos querem determinar os conteúdos educacionais Por Bárbara Dal Fabbro Ao relatarmos a perseguição a um escritor ou obra literária logo associamos a prática ao período em que a Igreja Católica, tendo o Tribunal da Santa Inquisição como braço armado, confiscou e queimou livros. Matando não só os pensamentos e ideais de seus autores, como eles próprios. Porém, os casos a que nos referimos são mais recentes e latentes. Não tomaram proporções extremadas, mas causaram polêmicas discussões em torno dos livros didáticos. Em 2007, a coleção Nova História Crítica, do historiador Mario Schmidt, foi uma constante nos jornais e revistas brasileiros. Reportagens o acusavam de disseminar a ideologia…
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438 páginas através dos séculos para recontar a morte dos escritos mais valiosos da humanidade
Por Bárbara Dal Fabbro Neste momento, enquanto você lê estas linhas, pelo menos um livro está desaparecendo para sempre. A morte de uma obra literária é uma regressão, um retrocesso, já que com ele se vão ideais, pensamentos, sentimentos, conhecimento e até sonhos. O que faz uma pessoa destruir um livro? Queimá-lo, rasgá-lo ou mesmo rasurar suas páginas? Estas perguntas, com certeza, permearam os pensamentos do escritor venezuelano Fernando Báez. O interesse pelos volumes destruídos ou perdidos remonta à sua infância, desde os cinco anos de idade os livros eram seus únicos amigos. Ele costumava frequentar a biblioteca pública de sua comunidade, em San Félix, Ciudad Guayana, na região oriental…
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Amores, cocaínas, tangos e moléstias
Enervadas, de Madame Chrysanthème, é uma crítica à vida tediosa da mulher burguesa dos anos 1920 Por Natália Huf No perfil sobre Madame Chrysanthème, também publicado aqui no Jornalismo & História, Mauro César Silveira diz que “se pudesse, ela não assinaria seus textos como Chrysanthème”. De fato, a narrativa feminista e moderna de Enervadas, de 1922, não deveria precisar ter sido assinada por um pseudônimo. Infelizmente, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos, a mulher por trás do nome, assim como a protagonista Lúcia, viveu em uma época em que o sexo feminino estava destinado a ocupar apenas as funções de esposa, dona de casa e mãe. Escritora e jornalista, Chrysanthème…
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Muito prazer, meu nome é Maria Cecília
Por Mauro César Silveira Se pudesse, ela não assinaria seus textos como Chrysanthème. Mas naqueles tempos, nas primeiras quatro décadas do século passado, uma voz feminista brasileira não deveria revelar sua identidade. Assim como sua mãe Emília, também jornalista e escritora, que usou o pseudônimo de Carmen Dolores, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos precisou resguardar seu verdadeiro nome ao herdar a coluna semanal de Machado de Assis, no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, e levar adiante sua prolífica produção, tanto nas páginas da imprensa como nas obras literárias. Foram incalculáveis crônicas e artigos em inúmeros periódicos do centro do país e 16 livros, com uma diversidade estilística…
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Amazônia, a sinfonia inacabada do celebrado autor de “Os Sertões”
Por Mauro César Silveira A ideia fervilhava na mente de Euclides da Cunha há uns dois, três anos. Em 1904, ao escrever para seu colega jornalista e escritor, José Veríssimo, que dirigira a emblemática Revista Brasileira na última década do século XIX, deixou isso muito claro: “Aquelas paragens, hoje, depois dos últimos movimentos diplomáticos, estão como o Amazonas antes de Tavares Bastos; se eu não tenho a visão admirável deste, tenho o seu mesmo anelo de revelar os prodígios da nossa terra”. Referia-se a sua ida ao Acre, não como repórter, mas na condição de engenheiro que chefiava a Comissão de Reconhecimento das Nascentes do Rio Purus. Eram momentos de…
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O bom jornalismo do clássico de Euclides da Cunha
Por Mauro César Silveira Bendita Maratona Euclidiana do ano de 2000, em São José do Rio Pardo, no extremo nordeste do Estado de São Paulo. Não fosse aquele encontro, aberto a estudantes dos ensinos fundamental e médio, cumprindo o rito anual de reunir todos os interessados em se debruçar sobre a clássica obra de Euclides da Cunha, e provavelmente não poderíamos contar hoje com o instigante trabalho da jornalista Bárbara Dal Fabbro. Foi ali, naquela semana de estudos envolvendo intelectuais de várias regiões do país, que aflorou seu sentimento definitivo pela epopéia narrada pelo célebre escritor brasileiro, simultaneamente à percepção do jornalismo como possibilidade de vida, conforme ela revela na…
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Os limites do jornalismo se refletem nas sombras da caverna de Platão
Por Bárbara Dal Fabbro Sempre fui muito ligada à mitologia e à filosofia. Assim, em meio a uma aula, veio-me a ideia de associar essas áreas, ou pelo menos uma delas, a uma outra paixão, pela qual tenho lutado, estudado e exercido há mais de uma década: o jornalismo. Pode parecer presunção demais da minha parte me considerar apta a interligar áreas do conhecimento tão fortes e distintas, mas aceito o desafio, na forma de um breve ensaio, já que não tenho arcabouço suficiente para levar adiante essa pesquisa. E como me é permitido, neste espaço só meu, divagar sobre tudo o que eu quiser e bem entender, começo delimitando…
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A trajetória de Oliveira Lima, personagem típico do país do toma lá, dá cá
Por Mauro César Silveira A desesperada ação do governo de Jair Bolsonaro, se socorrendo do chamado centrão para tentar sobreviver ao impeachment, tem profundas raízes históricas. O clientelismo, no âmbito do poder, marcou o período colonial brasileiro, manteve-se depois da independência e se consolidou durante o longo reinado de D. Pedro II. Nem mesmo os ventos republicanos inibiram esse costume tão arraigado na trajetória política do país. Bem ao contrário. A antiga tradição fisiologista revigorou com o advento do novo regime. É o que revela, com sólida base de pesquisa, o jornalista e escritor Maurício Oliveira, na sua mais recente obra, o livro eletrônico Toma lá, dá cá: como a…