Jornalismo
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Amores, cocaínas, tangos e moléstias
Enervadas, de Madame Chrysanthème, é uma crítica à vida tediosa da mulher burguesa dos anos 1920 Por Natália Huf No perfil sobre Madame Chrysanthème, também publicado aqui no Jornalismo & História, Mauro César Silveira diz que “se pudesse, ela não assinaria seus textos como Chrysanthème”. De fato, a narrativa feminista e moderna de Enervadas, de 1922, não deveria precisar ter sido assinada por um pseudônimo. Infelizmente, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos, a mulher por trás do nome, assim como a protagonista Lúcia, viveu em uma época em que o sexo feminino estava destinado a ocupar apenas as funções de esposa, dona de casa e mãe. Escritora e jornalista, Chrysanthème…
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Muito prazer, meu nome é Maria Cecília
Por Mauro César Silveira Se pudesse, ela não assinaria seus textos como Chrysanthème. Mas naqueles tempos, nas primeiras quatro décadas do século passado, uma voz feminista brasileira não deveria revelar sua identidade. Assim como sua mãe Emília, também jornalista e escritora, que usou o pseudônimo de Carmen Dolores, Maria Cecília Bandeira de Melo Vasconcelos precisou resguardar seu verdadeiro nome ao herdar a coluna semanal de Machado de Assis, no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, e levar adiante sua prolífica produção, tanto nas páginas da imprensa como nas obras literárias. Foram incalculáveis crônicas e artigos em inúmeros periódicos do centro do país e 16 livros, com uma diversidade estilística…
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Amazônia, a sinfonia inacabada do celebrado autor de “Os Sertões”
Por Mauro César Silveira A ideia fervilhava na mente de Euclides da Cunha há uns dois, três anos. Em 1904, ao escrever para seu colega jornalista e escritor, José Veríssimo, que dirigira a emblemática Revista Brasileira na última década do século XIX, deixou isso muito claro: “Aquelas paragens, hoje, depois dos últimos movimentos diplomáticos, estão como o Amazonas antes de Tavares Bastos; se eu não tenho a visão admirável deste, tenho o seu mesmo anelo de revelar os prodígios da nossa terra”. Referia-se a sua ida ao Acre, não como repórter, mas na condição de engenheiro que chefiava a Comissão de Reconhecimento das Nascentes do Rio Purus. Eram momentos de…
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O bom jornalismo do clássico de Euclides da Cunha
Por Mauro César Silveira Bendita Maratona Euclidiana do ano de 2000, em São José do Rio Pardo, no extremo nordeste do Estado de São Paulo. Não fosse aquele encontro, aberto a estudantes dos ensinos fundamental e médio, cumprindo o rito anual de reunir todos os interessados em se debruçar sobre a clássica obra de Euclides da Cunha, e provavelmente não poderíamos contar hoje com o instigante trabalho da jornalista Bárbara Dal Fabbro. Foi ali, naquela semana de estudos envolvendo intelectuais de várias regiões do país, que aflorou seu sentimento definitivo pela epopéia narrada pelo célebre escritor brasileiro, simultaneamente à percepção do jornalismo como possibilidade de vida, conforme ela revela na…
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Os limites do jornalismo se refletem nas sombras da caverna de Platão
Por Bárbara Dal Fabbro Sempre fui muito ligada à mitologia e à filosofia. Assim, em meio a uma aula, veio-me a ideia de associar essas áreas, ou pelo menos uma delas, a uma outra paixão, pela qual tenho lutado, estudado e exercido há mais de uma década: o jornalismo. Pode parecer presunção demais da minha parte me considerar apta a interligar áreas do conhecimento tão fortes e distintas, mas aceito o desafio, na forma de um breve ensaio, já que não tenho arcabouço suficiente para levar adiante essa pesquisa. E como me é permitido, neste espaço só meu, divagar sobre tudo o que eu quiser e bem entender, começo delimitando…
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A trajetória de Oliveira Lima, personagem típico do país do toma lá, dá cá
Por Mauro César Silveira A desesperada ação do governo de Jair Bolsonaro, se socorrendo do chamado centrão para tentar sobreviver ao impeachment, tem profundas raízes históricas. O clientelismo, no âmbito do poder, marcou o período colonial brasileiro, manteve-se depois da independência e se consolidou durante o longo reinado de D. Pedro II. Nem mesmo os ventos republicanos inibiram esse costume tão arraigado na trajetória política do país. Bem ao contrário. A antiga tradição fisiologista revigorou com o advento do novo regime. É o que revela, com sólida base de pesquisa, o jornalista e escritor Maurício Oliveira, na sua mais recente obra, o livro eletrônico Toma lá, dá cá: como a…
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Jornalismo em quadrinhos atua como importante meio de construção da memória
Por Natália Huf O jornalismo, enquanto meio de conhecimento capaz de transformar a realidade, é também capaz de contribuir com a preservação e resgate da memória. Isso se deve ao processo de apuração, no qual o jornalista realiza entrevistas, faz pesquisas em documentos e busca informações que serão parte do relato jornalístico. A forma como esse conteúdo produzido pelo jornalista, a partir das informações captadas, varia, dos mais tradicionais aos mais inovadores: revistas e jornais impressos, programas de rádio ou de televisão, sites, blogs, podcasts e inúmeros outros formatos, como a história em quadrinhos. De imediato, é fácil associar o quadrinho ao público infanto-juvenil e ao conteúdo de humor, como…
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Rubens Valente: “Bolsonarismo deturpa o passado para inviabilizar os atores do presente”
Por Mauro César Silveira No conturbado quadro político brasileiro atual, a obra Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura adquire, cada vez mais, uma aguda importância. Depois de se impor como leitura essencial do abril indígena, o livro do jornalista Rubens Valente, lançado pela Companhia das Letras em 2017, repercute também na Europa. Em extenso artigo que o premiado repórter investigativo publicou, um mês atrás, na respeitada seção Dossier do jornal catalão La Vanguardia, as ações criminosas do governo Bolsonaro na Amazônia, ameaçando também o presente e o futuro do planeta, são relacionadas com a trágica atuação da ditadura civil-militar brasileira contra nossos povos…