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Escritos de Euclides: atravessemo-los!
Brasis descobertos pelo autor de Os Sertões continuam mais distantes do que nunca Por Bárbara Dal Fabbro Pensar a vida e obra de Euclides da Cunha é, em muitos aspectos, pensar o Brasil de Euclides da Cunha; um país que o fascinava, instigava e provocava a curiosidade e o ímpeto à busca pelo conhecimento, à descoberta. Engana-se aquele que atrela suas obras escritas a um tempo histórico específico. O Brasil por ele descrito continua sendo atual, em qualquer época que seja visto. Esse feito, da pertinência ao longo dos anos, só é possível pois o Euclides andante, viajante, em seus livros e relatos de viagens e vivências, nos mostra que…
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A sangue frio
Ministério Público Federal indicia oito militares e um médico por atrocidades cometidas durante a ditadura e desvenda parte dos crimes que o governo Bolsonaro se empenha em apagar da nossa memória histórica Por Vasconcelo Quadros Em dez denúncias encaminhadas ao Judiciário cumprindo parte da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) contra o Estado brasileiro, o Ministério Público Federal resgatou a pauta mais incômoda para as Forças Armadas e o governo do presidente Jair Bolsonaro: a acusação de que, longe da versão de uma guerra na selva difundida pelos militares, o que ocorreu na Amazônia entre outubro de 1973 e final de 1974, na operação conhecida como Marajoara, foram assassinatos…
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O estigma da suspeição no Império
Notícias de prisões reincidentes na Corte compõem a construção narrativa da criminalidade nos tempos de D. Pedro II Por Maria Fernanda Ribeiro Cunha Um sem-número de histórias aparecem diante dos olhos de pesquisadores que colocam a imprensa à exame da História. Enquanto pesquisava sobre a invenção das classes perigosas na segunda metade do século XIX, me deparei com a experiência de pessoas policiadas que tiveram suas vidas narradas nos periódicos fluminenses. O policiamento na Corte era parte da pauta de colaboradores e redatores dos jornais da imprensa comercial, que produziam elementos da suspeição importantes na disputa de forças encontrada entre policiais e policiados nas ruas da cidade. Em meio a…
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Os ecos do livro secreto da ditadura
Documentos apontam que os ideais do projeto Orvil se propagaram dentro das forças armadas e reverberam hoje no discurso bolsonarista Por Lucas Pedretti No início de 1989, o chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, mudou o formato dos Relatórios Periódicos Mensais (RPM) do órgão para a “difusão de conhecimentos destinados ao seu público interno”. Com alterações na diagramação, na linguagem e na distribuição, o militar tentava ampliar a influência dos chamados RPMs na formação da tropa. Era um tempo de transformações no país, e o Exército se estruturava para o novo momento: a redemocratização. Após mais de duas décadas de ditadura militar…